Por que acessibilidade na web é importante?

Murillo de Miranda Pereira2020-08-20

Imagine um mundo onde cada pessoa possui um tipo de dificuldade seja ela cognitiva, física, ou qualquer outra. Agora pense que ela, a pessoa, não alcança seus objetivos, ou se frusta durante o processo, pelo simples fato de que o mundo no qual está inserida não atende as suas necessidades.

Saiba que o mundo citado acima existe. Em um cenário no qual a web é e pode ser fundamental para o trabalho de todos, não devemos criar ainda mais barreiras para a comunicação e interação entre as pessoas. Quando desenhamos ou criamos uma tecnologia, sendo ela web ou não, e que se comporta de um jeito indevido, estamos criando barreiras e assim excluindo pessoas do coletivo.

Visando ajudar e dar chance para todas as pessoas na web, temos alguns pontos a serem discutidos abaixo.

A web acessível

O corpo governamental da web é a W3C (World Wide Web Consortium), principal organização de padronização. A finalidade da organização é estabelecer padrões para a criação e a interpretação de conteúdos para a Web, todas as discussões são apresentadas para um comitê internacional constituído por 450 membros no qual agrega empresas, órgãos governamentais e organizações independentes.

A W3C tem como missão conduzir a WWW (World Wide Web) para que atinja todo seu potencial, desenvolvendo protocolos e diretrizes que garantam seu crescimento de longo prazo.

Componentes que devem trabalhar em conjunto

Segundo os documentos da Iniciativa para a Acessibilidade na Web (W3C-WAI), acessibilidade na web significa que “pessoas com deficiência podem perceber, compreender, navegar e interagir com a web e podem também contribuir com a web”. Sendo assim, se a acessibilidade for aplicada de um modo geral na web, podemos permitir o entendimento, interação, participação e contribuição para todos com condições de alcance sem desigualdade.

Para que a acessibilidade na web seja possível, precisamos antes considerar alguns aspectos específicos e importantes para a construção dos documentos. A W3C-WAI identifica e menciona sete componentes que devem estar trabalhando em conjunto:

  1. O conteúdo que deve ser toda a informação contida numa página, sendo: a informação natural, tal como texto, imagem e áudio, ou até código/marcação que define a estrutura, a forma de apresentação, entre outros.

  2. Navegadores ou outros agentes do usuário, que são o meio acessível para os documentos.

  3. Tecnologia assistiva que é o caso dos programas leitores de tela, dos ampliadores de tela, dos teclados alternativos, entre outros, que são usados por pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

  4. O conhecimento sobre o usuário, sua experiência e suas estratégias adaptativas para a utilização da web.

  5. Todos os envolvidos no processo, podendo eles serem: desenvolvedores, designers, codificadores ou todos que contribuem com o conteúdo.

  6. Ferramentas de autoria que são aquelas que são usados para a criação do documento.

  7. Ferramentas de avaliação que são aquelas que avaliam a acessibilidade, validam HTML bem como CSS, entre outros.

Diretrizes de acessibilidade

De forma a definir uma sistematização para a criação e conhecimento dos documentos, foram criados algumas diretrizes e regras.

  1. WCAG (Web Content Accessibility Guidelines ou Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web) são diretrizes para estrutura, conteúdo e apresentação das páginas Web.

  2. WAI-ARIA (Accessible Rich Internet Applications Suite ou Aplicações Web Ricas Acessíveis) servem para conteúdo ou páginas que exijam grande interação com o usuário.

  3. ATAG (Authoring Tool Accessibility Guidelines ou Diretrizes de Acessibilidade para Ferramentas de Autoria) dão suporte a ferramentas, como editores HTML, CMS (Content Management Systems), blogs, wikis e etc.

  4. UAAG (User Agent Accessibility Guidelines ou Diretrizes de Acessibilidade para Agentes do Usuário) regulamentam os navegadores Web, media players, dentre outros.

A correlação entre todos os componentes pode ser melhor vista em conjunto de componentes interdependentes para acessibilidade na Web.

Acessibilidade na prática

Agora iremos entender na prática como podemos fornecer uma boa experiência para o usuário e acessível a todos. Para isso algumas diretrizes já citadas anteriormente serão detalhadas nessa seção, dentre elas: WCAG e WAI-ARIA.

WCAG

Os documentos das Diretrizes de acessibilidade ao conteúdo da Web (WCAG) deferem sobre uma série de critérios de sucesso, técnicas e recomendações para a criação de documentos acessíveis que são guiados por quatro princípios:

Princípio 1: Perceptível

Todas as informações e os componentes da interface devem estar visíveis de maneira perceptível.

Exemplo

Nesse princípio diretriz 1.1 Alternativas de texto: “Fornecer alternativas de texto para qualquer conteúdo não textual para que possa ser alterado para outras formas que as pessoas precisem, tais como letras grandes, braille, fala, símbolos ou linguagem mais simples.”

Para cumprir essa diretriz, existem quatro critérios de sucesso, como esse por exemplo:

Princípio 2: Operável

A navegação e os componentes da interface devem ser operáveis.

Exemplo

Nesse princípio diretriz 2.1 Teclado Acessível: “Tornar todas as funcionalidades disponíveis a partir de um teclado.”

Para cumprir essa diretriz, existem três critérios de sucesso, como esse por exemplo:

  • Teclado (Keyboard): toda a funcionalidade do conteúdo deve ser operável através de uma interface de teclado sem requerer tempos específicos para toques individuais nas teclas, exceto quando a função requer entrada que depende do caminho do movimento do usuário e não apenas dos pontos finais.

Princípio 3: Compreensível

Toda operação deve ser legível e compreensível.

Exemplo

Nesse princípio diretriz 3.1 Legível: “Tornar o conteúdo do texto legível e compreensível.”

Para cumprir essa diretriz, existem seis critérios de sucesso, como esse por exemplo:

Princípio 4: Robusto

O documento deve ser o mais robusto possível para que assim seja possível ser interpretado de forma concisa por diversos agentes do usuário, incluindo recursos de tecnologia assistiva.

Exemplo

Nesse princípio diretriz 4.1 Compatibilidade: “Maximizar a compatibilidade com os agentes usuários atuais e futuros, incluindo tecnologias de assistência.

Para cumprir essa diretriz, existem dois critérios de sucesso, como esse por exemplo:

  • Nome, Função, Valor (Name, Role, Value): Para todos os componentes da interface do usuário o nome, função e valor podem ser determinados programaticamente e a notificação de mudanças nestes itens está disponível para os agentes do usuário, incluindo tecnologias de assistência. Importante ressaltar que este critério de sucesso é principalmente para autores da web que escrevem seus próprios componentes de interface. Por exemplo, os controles HTML padrão já atendem a este critério de sucesso quando usados de acordo com a especificação.

WAI-ARIA

A WAI-ARIA ou apenas ARIA define maneiras de tornar mais acessíveis os conteúdos dinâmicos e aplicativos. Assim como outros padrões do W3C, a implementação de WAI-ARIA não interfere na renderização do conteúdo em navegadores antigos, os quais não têm suporte à recomendação.

Tudo aquilo que pode causar frustração ao usuário, como: conteúdos escondidos, alterações de elementos visíveis e navegação precária, podem ser facilitados por alguns atributos de WAI-ARIA.

Com apenas o uso dos atributos do HTML, a WAI-ARIA identifica esses recursos e faz a correlação entre seus estados e relacionamento. Sendo assim, é possível alterar a semântica dos elementos ou criar regiões e estruturas nos documentos de maneira correta, como menus, conteúdo primário e secundário assim como outros tipos de estruturas para tornar o conteúdo acessível.

A semântica possui duas partes:

  • Papéis (Roles): é o tipo de elemento o usuário está interagindo. Temos como exemplo um botão no qual possui role="button" para indicar que o elemento é um botão. Para saber todo os papéis, encontre a lista em possíveis de interação dos elementos.
  • Estados e Propriedades (States and Properties): Os estados definem a configuração atual do elemento, por exemplo: aria-disabled="true", informa ao usuário que o campo está desativado. Já as propriedades dão um sentido extra ao elemento, por exemplo: aria-required="true” informa ao usuário que o campo é obrigatório.

Como dito antes, com ARIA podemos alterar a semântica do elemento e assim dar o contexto correto e esperado ao elemento, por exemplo:

<div role=“button”>Alterar usuário</div>

É importante se atentar que pelo fato de que é possível fazer a alteração, isso não significa que devemos sempre alterar a semântica dos elementos, exceto somente quando for extremamente necessário. O HTML possui uma vasta lista de elementos semânticos e devemos usar eles sempre que possível.

Como começar

Neste artigo entendemos o motivo pelo qual devemos pensar em cada linha de código escrita para a web, não queremos criar barreiras que impeçam a contribuição delas para o meio inserido.

A adoção das práticas devem sempre ser consideradas mas tenha em mente que a implementação e aprendizado pode levar algum tempo, às vezes por vontade própria ou por força maior de terceiros, no caso a sua empresa. Para que essa adoção seja leve e constante, é importante seguir alguns pontos:

  1. Sempre tente pensar e construir o seu HTML o mais semântico possível, isso significa que para cada informação inserida na tela o seu elemento tag deve ser o correto, de acordo com o seu papel. Um bom link para aprender e se atentar nesses tipos de informação é o conteúdo da Mozilla.

  2. Para elementos modificados semanticamente, tente sempre usar role para definir o seu papel no documento.

  3. Caso o seu elemento tenha características ou configurações, do tipo disabled dentre outros, use propriedades adequados para o contexto. Se aprofunde mais sobre estados e propriedades nesse link pois há uma gama de possibilidades para cada role.

  4. Use ferramentas de acessibilidade para ajudar na triagem dos erros. Alguns deles são:

Por fim, um bom guia para se orientar nesse mundo de acessibilidade é o guia sobre ARIA, nele é contido uma introdução sobre os pontos da WAI-ARIA e nesse. Outro documento importante é o guia sobre diretrizes de acessibilidade todos criados pelo time das W3C.